O Incêndio na Ultracargo: uma Análise Preliminar


Última atualização: 03/10/2023 às 15h
Tempo de leitura: 4 minutos

A perícia para identificar as causas do incêndio em Santos, que ocorreu entre os dias 2 e 10 de abril deste ano, ainda está em curso. Contudo podemos elencar alguns pontos críticos deste sinistro, com base nos depoimentos, fotos, vídeos e informações veiculadas pela mídia.

Introdução

Por volta das 10 horas da manhã do dia 2 de abril de 2015 um incêndio de grandes proporções atingiu um parque de tanques da empresa Ultracargo na cidade de Santos (SP). O fogo começou em um tanque de gasolina e se intensificou rapidamente, sendo que o PIE (Plano Integrado de Emergência) das empresas da região se mobilizou em conjunto com o Corpo de Bombeiro do Estado de São Paulo para combater o fogo.

As chamas atingiram mais de 60 metros de altura e explosões ocorreram no local. Foi utilizada também água do mar para o combate ao incêndio, sendo que o Navio Fleury do CB-SP fazia o bombeamento até as viaturas, em uma distancia de aproximadamente 700 metros e de lá a água era disponibilizada para os equipamentos de combate. Além do Fleury, a Petrobras disponibilizou dois rebocadores para também bombearem água para o sinistro.  Uma antiga ligação subterrânea com a Transpetro permitiu que também fosse utilizada a rede de incêndio desta empresa.

Com a participação de mais de 950 homens, diversas empresas que cederam pessoal e equipamentos, entre elas Petrobras, Transpetro, Braskem, Ultra, o incêndio foi extinto em 9 dias. Um comando integrado entre todos os envolvidos garantiu o sucesso dos trabalhos e evitou problemas ainda maiores, caso o incêndio atingisse outras áreas da região. Nenhuma vida foi perdida nesta operação.


A seguir listamos alguns pontos críticos deste sinistro, com base nos depoimentos, fotos, vídeos e informações divulgadas pela imprensa.

Equipamentos de combate a incêndio

Segundo o próprio projetista do sistema de incêndio da Ultracargo, os equipamentos existentes atendiam as normas técnicas vigentes. Cada tanque era dotado de câmaras de espuma tipo MCS, para injeção de espuma (água e LGE) dentro do tanque e ainda anéis de resfriamento. Pelas imagens pôde se constatar o funcionamento apenas de alguns anéis de resfriamento, porém não é possível afirmar que a vazão de água estava adequada para garantir o resfriamento e manter os tanques em temperaturas seguras.

Já as câmaras de espuma, cuja aplicação em um tanque fechado não seria possível visualizar, apresentaram indícios de não terem sido acionadas. Por este motivo, a aplicação de espuma dentro dos tanques ocorreu basicamente através de canhões monitores móveis.

Líquido gerador de espuma (LGE)

Como foi amplamente noticiado, o uso de LGE chegou a mais de 400 mil litros (com possibilidade de terem sido de mais de 700 mil litros). Para um sistema, cujo dimensionamento máximo não exigiria mais de 10 mil litros, o uso superior a 40 vezes este volume pode ser sido ocasionado por alguns fatores:

Simultaneidade de riscos: No momento em que diversos tanques e bacias de contenção estavam em chamas, a situação era totalmente diferente do que um cenário de projeto, quando se calcula os recursos com base no maior risco (exemplo, o maior tanque, com capacidade para 10 milhões de litros de gasolina ou álcool).

Uso de LGE inapropriado para um determinado risco: Conforme definido na NBR 15511, existem LGEs específicos para cada tipo de líquido inflamável. Basicamente, os solventes polares (álcool, por exemplo) exigem uma espuma diferente da espuma que atende apenas a hidrocarbonetos (gasolina). Caso seja aplicada a espuma de hidrocarbonetos em álcool, o álcool “destrói” a espuma. Como na Ultracargo existiam os dois combustíveis, possivelmente grande parte do LGE foi perdido com aplicação equivocada de LGE. Também não é possível saber se o LGE recebido durante a emergência tinha qualidade adequada para o uso.

Tanques de combustível

Os tanques existentes na Ultracargo estavam muito próximos uns aos outros, o que facilitou a propagação do incêndio por radiação, agravada ainda pela ineficiência do sistema de resfriamento, como mencionado acima.

Outro ponto que vale ser destacado com relação aos tanques é que, segundo a API, este tipo de equipamento deve ter uma solda fragilizada no teto, de forma que em caso de incêndio/explosão, o teto seja lançado ou aderne. Esta condição permite que haja abertura para aplicação de espuma. Foi verificado que alguns tanques permaneceram com uma abertura inferior a 40%, o que dificultou a aplicação de espuma com canhões. Neste caso, boa parte da espuma aplicada seguiu para o dique, o que causou problemas pelo excesso de água e consequente rompimento de uma bacia. O combustível, sobre a água, ficou em chamas inúmeras vezes, possibilitando a reignição em áreas cujo incêndio já havia sido controlado.

Acesso bloqueado por cobertura em rua interna

Uma das grandes dificuldades enfrentadas pela equipe de combate a incêndio foi a existência de uma cobertura em uma rua interna na empresa, que impossibilitava o acesso de viaturas, por exemplo. Caso não houvesse tal estrutura, esta rua seria estratégica para o combate  e poderia ter reduzido o tempo total de extinção. Por isso que além do atendimento às normas, o sistema de incêndio deve ser constantemente revisto e análises de risco devem ser realizadas para evitar situações como esta.

Outros produtos armazenados

Felizmente o incêndio foi controlado dentro da tancagem de gasolina e álcool da empresa. Existiam tanques com produtos perigosos, como acrilato de butila, que se atingidos poderiam exigir evacuação da população vizinha. Outra empresa próxima armazenava grandes quantidades de GLP, que poderia também ter sido atingido pelo incêndio.

Com a conclusão dos trabalhos de perícia serão conhecidos os detalhes que ocasionaram um sinistro de tamanha proporção e com esta experiência será possível rever normas e procedimentos que garantam sistemas mais seguros.

Fonte das imagens: Bombeiros SP – https://twitter.com/BombeirosPMESP/

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